28 setembro 2007

Sob as cidades que prosperam, o futuro da China está secando - parte 1

Jim Yardley
Em Shijiazhuang, China
Para o The New York Times

A centenas de metros abaixo do solo, as reservas de água desta capital provincial de mais de 2 milhões de habitantes estão secando. Os poços municipais já drenaram dois terços da água subterrânea local, e o lençol freático está diminuindo rapidamente.
Acima do solo, esta cidade na planície norte da China está festejando. O crescimento econômico chegou a 11% no ano passado. A população está crescendo. Um novo lançamento imobiliário de luxo está anunciando propriedades às margens de lagos enchidos com água bombeada do lençol freático. Outro complexo parcialmente construído, o Arc de Royal, está sendo construído sobre um dos pontos mais baixos do lençol freático da cidade.
"As pessoas que estão comprando apartamentos não estão pensando se haverá água no futuro", disse Zhang Zhongmin, que tenta há 20 anos aumentar a conscientização da população sobre a preocupante situação da água da cidade.
Por três décadas, a água tem sido indispensável para a sustentação da expansão econômica que tornou a China uma potência mundial. Agora, o crescimento econômico galopante da China, freqüentemente cheio de desperdício, está levando o país na direção de uma crise de água. A poluição da água é desenfreada por todo o país, enquanto a escassez de água se agravou severamente no norte da China e a demanda cresce por toda parte.
A China está revirando o mundo atrás de petróleo, gás natural e minérios para manter sua máquina econômica em funcionamento. Mas acordos comerciais não podem resolver os problemas de água. O uso de água na China quintuplicou desde 1949, e os líderes cada vez mais enfrentam duras escolhas políticas enquanto as cidades, indústrias e a agricultura disputam reservas finitas e desequilibradas de água.
Um exemplo são os grãos. O Partido Comunista, desconfiado da dependência de importados para alimentar o país, há muito insiste na auto-suficiência em grãos. Mas plantar tantos grãos consome quantidades imensas de água subterrânea na planície norte da China, que produz metade do trigo do país. Alguns cientistas dizem que a agricultura em uma região que está se urbanizando rapidamente deve ser restringida para proteger os aqüíferos ameaçados. Mas fazê-lo poderia ameaçar a subsistência de milhões de agricultores e causar um aumento nos preços internacionais dos grãos.
Para o Partido Comunista, o desafio imediato é a tarefa prosaica de forçar a economia mais dinâmica do mundo a conservar e proteger a água limpa. A poluição da água é tão disseminada que os reguladores dizem que um grande incidente ocorre dia sim, dia não. O lixo municipal e industrial deixou grandes trechos de muitos rios "impróprios para contato humano".
Cidades como Pequim e Tianjin exibiram progresso na conservação da água, mas a economia chinesa continua enfatizando o crescimento. A indústria na China usa de 3 a 10 vezes mais água, dependendo do produto, do que as indústrias em países desenvolvidos.
"Nós temos que nos concentrar agora na conservação", disse Ma Jun, um ambientalista proeminente e autor de "A Crise de Água da China".
"Nós não temos muitos recursos extras de água. Nós temos os mesmos recursos e pressões muito maiores de crescimento", ele disse.
No passado, o Partido Comunista se voltou de forma refletida a projetos de engenharia para tratar dos problemas de água, e agora está retomando um dos planos não realizados de Mao Tse-tung: o Projeto de Transposição de Águas Sul-Norte de US$ 62 bilhões, para canalizar 45 bilhões de metros cúbicos para o norte a cada ano por três rotas da bacia do Rio Yangtze, onde a água é mais abundante. O projeto, se construído na íntegra, seria concluído em 2050. As linhas leste e central já estão em construção; a linha oeste, a mais controversa por preocupações ambientais, continua em estágio de planejamento.
A planície norte da China sem dúvida precisa de qualquer água que puder obter. Uma potência econômica com mais de 200 milhões de moradores, a região possui chuvas limitadas e depende da água subterrânea para 60% de suas necessidades de água. Outros países possuem aqüíferos que estão sendo drenados a níveis perigosamente baixos, como o Iêmen, Índia, México e Estados Unidos. Mas os cientistas dizem que os aqüíferos sob a planície norte da China poderão secar em 30 anos.
"Não há incerteza", disse Richard Evans, um hidrólogo que trabalhou na China por duas décadas e serviu como consultor para o Banco Mundial e para o Ministério dos Recursos de Água da China. "A taxa de declínio é muito clara, muito bem documentada. Eles ficarão sem água subterrânea se o ritmo atual continuar."
Fora de Shijiazhuang, equipes de construção estão trabalhando na linha centra do projeto de transposição, que fornecerá à cidade infusões de água a caminho de seu destino final, Pequim. Para muitos dos engenheiros e trabalhadores, o trabalho conta com um brilho patriótico.
Mas apesar de muitos cientistas concordarem que o projeto fornecerá um importante afluxo de água, eles também dizem que não será uma solução final. Ninguém sabe quanta água limpa o projeto fornecerá; os problemas de poluição já estão surgindo na linha leste. As cidades e indústrias serão as beneficiárias da nova água, mas o impacto sobre a agricultura é limitado. Os déficits de água deverão persistir.
"Muitas pessoas estão fazendo a pergunta: o que podemos fazer?" disse Zheng Chunmiao, um importante especialista internacional em água subterrânea. "Eles não podem continuar com as práticas atuais. Eles precisam encontrar uma forma de controlar o problema."

Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2007/09/28/ult574u7834.jhtm
(Consultado em 28/09/2007)

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