Sob as cidades que prosperam, o futuro da China está secando - parte 2
Jim Yardley
Em Shijiazhuang, China
Para o The New York Times
Um problema ecológico
Em Shijiazhuang, China
Para o The New York Times
Um problema ecológico
Em uma manhã poluída de abril passado, Wang Baosheng partiu com seu utilitário esportivo feito na China da frente de um shopping center na zona oeste de Pequim para uma viagem de três horas com destino sul, que se tornou uma excursão pela crise de água que está pressionando a planície norte da China.
Wang viaja várias vezes por mês para Shijiazhuang, onde é o engenheiro-chefe que está supervisionando a construção de cinco quilômetros da linha central do projeto de transposição de água. Uma chuva leve batia no pára-brisa e Wang recitou um provérbio chinês sobre a preciosidade das chuvas de primavera para os agricultores. Ele também notou um rio morto atrás do outro enquanto seu utilitário percorria leitos secos: o Yongding, o Yishui, o Xia e, finalmente, o Hutuo.
"Você vê todos estes córregos com pontes, mas não há água", disse Wang.
Há cerca de um século, a planície norte da China era um ecossistema saudável, dizem os cientistas. Agricultores que abriam poços podiam encontrar água a cerca de dois metros e meio. Córregos e riachos serpenteavam pela região. Pântanos, fontes naturais e alagadiços eram comuns.
Hoje, a região, comparável em tamanho ao Estado do Novo México, é seca. Cerca de 80% dos alagadiços secaram, segundo um estudo. Os cientistas disseram que a maioria dos córregos e riachos desapareceu. Vários rios que antes eram navegáveis agora são em grande parte areia e mato. O maior lago natural de água doce no norte da China, o Baiyangdian, está encolhendo em ritmo constante e sofre com a poluição.
O que aconteceu?
A lista inclui políticas equivocadas, conseqüências indesejadas, explosão populacional, mudança climática e, acima de tudo, crescimento econômico implacável. Em 1963, uma enchente paralisou a região, levando Mao a construir um sistema de represas, reservatórios e desaguadouros de concreto para controlar as enchentes. O problema das enchentes foi resolvido, mas o equilíbrio ecológico foi alterado à medida que as represas começaram a sufocar os rios que antes fluíam na direção leste, para a planície norte da China.
Os novos reservatórios gradualmente se transformaram em grandes fornecedores de água para cidades em crescimento, como Shijiazhuang. Os agricultores, os maiores usuários de água da região, começaram a depender quase que exclusivamente de poços. As chuvas começaram a diminuir em ritmo constante, no que alguns cientistas agora acreditam ser uma conseqüência da mudança climática.
Antes, os agricultores compensavam as limitadas chuvas anuais da região realizando três plantações a cada dois anos. Mas a água subterrânea parecia ilimitada e as políticas do governo pressionavam por maior produção, de forma que os agricultores iniciaram uma segunda plantação por ano, geralmente trigo de inverno, que exige bastante água.
Nos anos 70, como mostram estudos, o lençol freático já estava diminuindo. Então a morte de Mao e a introdução de reformas econômicas voltadas ao mercado provocaram um renascimento agrícola. A produção disparou e renda rural aumentou. O lençol freático continuou encolhendo, secando ainda mais os alagadiços e rios.
Por volta de 1900, Shijiazhuang era uma coleção de aldeias rurais. Em 1950, a população tinha chegado a 335 mil. Neste ano, a cidade conta com aproximadamente 2,3 milhões de habitantes, com uma população metropolitana de 9 milhões.
Mais pessoas significa maior consumo de água, e a cidade agora explora pesadamente o lençol freático, que está diminuindo em mais de um metro por ano. Hoje, alguns poços da cidades precisam descer 200 metros para conseguir água limpa. Nas áreas de perfuração mais profunda, funis acentuados se formaram no lençol freático, conhecidos como "cones de depressão".
A qualidade da água subterrânea também piorou. A água de esgoto, freqüentemente não tratada, é rotineiramente despejada nos rios e em canais abertos. Zheng, o especialista em água, disse que os estudos mostraram que cerca de três-quartos de todo o sistema aqüífero da região agora sofre algum grau de contaminação.
"Não haverá desenvolvimento sustentável no futuro se não houver água subterrânea", disse Liu Changming, um importante especialista chinês em hidrologia e um estudioso sênior da Academia Chinesa de Ciências.
(Consultado em 28/09/2007)
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